Cinco visões equivocadas sobre o Cristianismo e a Política

A religião pode exercer alguma influência na esfera política? Líderes religiosos podem usar os púlpitos de sua igreja para falar sobre consciência política e temas correlatos? O cristão deve se posicionar em questões políticas? Qual deve ser o posicionamento do cristão perante as pautas públicas? O que o Livro Sagrado fala sobre isso?

São perguntas polêmicas que, independente de qualquer fé professada ou viés político que tenhamos, é necessário conhecimento para entender o pensamento hegemônico que nos rodeia e avaliar nossa postura perante a sociedade.

Para aqueles que direcionam seus passos através dos ensinamentos bíblicos, este livro traz importantes argumentos baseados em fatos relevantes no mundo atual. Vamos ao resumo acerca das cinco visões equivocadas sobre o cristianismo e a política.

1. O GOVERNO DEVE IMPOR A RELIGIÃO

Não é de hoje que o mundo trava um debate relacionado à política e religião. No curso da história vemos como o Estado (o ente no qual a humanidade delegou o poder de governar, segundo a visão de Thomas Hobbes, na obra Leviatã) aliançou-se com o universo religioso e tivemos, infelizmente, muitas guerras em nome de Deus.

Contudo, a visão de impor a religião é incompatível com os ensinamentos de Cristo e com a própria natureza da fé.

Jesus fez distinção entre o reino de Deus e o de César em Mateus 22.20-21 – “E ele diz-lhe: De quem é esta efígie e esta inscrição? Dizem-lhe eles: De César. Então ele lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.”

Nos versículos citados Jesus deixa bem claro que há uma grande diferença entre dois âmbitos de influência: O Governo e a Vida Religiosa.

Outro importante versículo acerca da não imposição da fé cristã, está em Lucas 9.52-55 – “E mandou mensageiros adiante de si; e, indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos, para lhe prepararem pousada, mas não o receberam, porque o seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém. E os seus discípulos, Tiago e João, vendo isto, disseram: Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez? Voltando-se, porém, repreendeu-os, e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E foram para outra aldeia.”

Nessa passagem bíblica Jesus não obrigou a crerem Nele e repreendeu seus discípulos quando quiseram castigar aqueles que O rejeitaram, dizendo a eles que: “vós não sabeis de que espírito sois”. E, não nos esqueçamos de que quando interpelado por Pilatos, Jesus disse: “o meu reino não é deste mundo” (Jo 18:36).

A verdadeira fé em Deus deve ser voluntária, não deve ser exigida à força nem por governos nem por pessoas.

O próprio Jesus assim afirmou: “SE ALGUÉM QUISER SEGUIR APÓS MIM…” (Mateus 16:24).

E ao impor a fé cristã, provocamos a expulsão do verdadeiro cristianismo, uma vez que a pessoa não opta voluntariamente por segui-la. Como resultado, teremos um grande número de pessoas que se tornaram “cristãs”, mas apenas de nome. Sem quaisquer consciência e firmeza de fé.

O Reino de Deus é estabelecido pelo poder do evangelho que transforma o coração das pessoas (Romanos 1:16). E uma vez que haja transformação em seu coração; sua mente e suas atitudes também serão renovadas em Cristo Jesus (II Coríntios 5:17)

Por isso, nós cristãos, devemos veementemente defender a liberdade religiosa.

2. GOVERNO DEVE EXCLUIR A RELIGIÃO

Outro grande equívoco aceito por muitos, além da imposição da religião é a exclusão total dela por meio de ações estatais.

Sendo assim, precisamos saber a diferença entre “Motivos para uma lei” e “Conteúdo da lei”.

A fim de materializar isso, tomemos como exemplo a campanha para abolir a discriminação e segregação raciais nos EUA. A campanha foi liderada por Martin Luther King, pastor batista e que usava a Bíblia para pregar contra a escravidão e contra a injustiça social (motivos para uma lei). Entretanto, as leis contra a discriminação e segregação racial NÃO estabelecem uma religião (conteúdo da lei). Ou seja, usar MOTIVOS religiosos para apoiar uma lei secular não é o mesmo que ESTABELECER UMA RELIGIÃO.

A Bíblia diz que a autoridade governamental é “serva de Deus para o teu bem”. As autoridades são servos de Deus, para o seu bem. Mas, se você estiver fazendo algo errado, é evidente que deve temer, pois elas têm o poder de puni-lo, pois estão a serviço de Deus para castigar os que praticam o mal. (Romanos 13:4)

A tendência de excluir a religião do governo é eliminar de toda nação qualquer discernimento sobre padrões morais absolutos ou qualquer conhecimento (de forma objetiva e clara) sobre o certo e errado. Acarretando assim, em uma desintegração moral completa da sociedade.

Podemos sim, utilizarmos de conceitos e princípios básicos da religião com o objetivo de defendermos muitas causas e mudanças em nossa sociedade, sem, contudo, transformarmos tais bandeiras em imposições religiosas. 

3. TODOS OS GOVERNOS SÃO PERVERSOS E DEMONÍACOS

Na passagem bíblica de Lucas 4.6 – Satanás pretendeu que Jesus acreditasse em suas palavras quando disse:“que toda autoridade dos reinos foi entregue a ele”. Mas em Jó 8.44 Jesus nos instrui acerca de como avaliar as declarações de Satanás. “Não se firmou na verdade, pois nele não há verdade. Quando ele mente, fala do que lhe é próprio, pois é mentiroso e pai da mentira”

Então cabe a você saber em quem vai depositar sua confiança: nas palavras de Satanás (o pai da mentira) ou nas palavras de Jesus (que não é homem para que minta, nem filho do homem para que se arrependa). 

4. A IGREJA DEVE SE DEDICAR SOMENTE AO EVANGELISMO E NÃO À POLÍTICA

Precisamos entender que o evangelho é boa-nova de Deus a respeito da vida como um todo! É necessário que os cristãos sejam muito bem instruídos tanto biblicamente quanto acerca do contexto econômico, político e social a qual estão inseridos.

Precisamos nos deixar ser usados por Deus na esfera governamental do nosso país, pois assim podemos trabalhar para o bem estar da sociedade e ter como resultado uma grande mudança em nossas relações enquanto nação brasileira e enquanto Comunidade Internacional.

Devemos buscar fazer o bem ao próximo em todos os aspectos da sociedade e isso inclui empenhar-se para que haja um bom governo e boas leis.

5. A IGREJA DEVE SE DEDICAR À POLÍTICA, E NÃO AO EVANGELISMO

Wayne Grudem esclarece:

” […] se começarmos a imaginar que apenas boas leis resolverão os problemas do nosso país ou criarão uma sociedade reta e justa, teremos caído em grande erro. A menos que haja, simultaneamente, uma transformação interior no coração e na mente das pessoas, boas leis só resultarão em aquiescência externa, de má vontade, com o nível mínimo de obediência necessário para evitar a punição. Bons governos e boas leis podem evitar muitos comportamentos nocivos e podem servir para o ensino do que a sociedade aprova ou não, mas não são capazes, por si só, de produzir pessoas boas”. 

O livro ajuda a esclarecer alguns princípios básicos para recuperar uma cosmovisão política sadia na vida cristã, norteando como deve ser o relacionamento Estado e Igreja à luz das Sagradas Escrituras, que atualmente é tão polêmico.

Que Deus encontre pessoas com ações e anseios honestos, voltados para servir as pessoas de maneira digna, através das suas funções parlamentares.

“Só os tolos acreditam que política e religião não se discutem. Por isso, os ladrões continuam no poder e os falsos profetas continuam a pregar.” (Charles Spurgeon)

Sara Matsuda

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